A noite desta terça-feira (19) os alunos do projeto noturno do Instituto Projeto Neymar Jr. tiveram uma experiência diferenciada. Marcelo Mesquita, diretor do documentário PARATODOS, conheceu o complexo educacional e esportivo localizado no Jardim Glória, na Praia Grande, e apresentou para cerca de 120 adolescentes o registro que fez sobre os atletas paralímpicos. “O PARATODOS é o meu terceiro longa-metragem e vem para fechar um ciclo de 10 anos fazendo documentários. E uma das nossas vontades foi impactar socialmente com as histórias e não fazer um filme simplesmente pela questão estética, narrativa ou de linguagem, e sim entender a sua importância no contexto”, explica Marcelo. O filme PARATODOS, lançado em junho de 2016, mergulha no cotidiano de alguns dos principais atletas paralímpicos brasileiros para investigar os bastidores do esporte de alta performance e discutir a inclusão da pessoa com deficiência na sociedade. Marcelo também conta que o projeto, além de ser exibido nas salas de cinema, foi distribuído gratuitamente na rede pública de ensino, em mais de 2 mil escolas, atingindo 250 mil alunos e os DVD´s possuem recursos de acessibilidade como libras, audiodescrição e legendas.
João Ricardo de Oliveira Silva, de 18 anos, foi um dos impactados pelo o projeto. Ele disse que já tinha ouvido falar sobre os paralímpicos, mas não tinha todo o conhecimento que aprendeu na noite de terça-feira. “Acredito que com mais informações, falando mais sobre eles, as pessoas abririam mais os olhos e não deixariam eles de lado. E com isso, teríamos mais formas de todos serem tratados iguais”. E é esse o objetivo do filme, é debater sobre uma sociedade mais inclusiva, mais para todos usando o esporte como um ponto de partida para uma discussão muito maior. “O Neymar Jr. construiu uma carreira impressionante, ele não foi uma criança que teve tudo, por exemplo. A família dele é um exemplo de pessoas que agarraram as oportunidades e venceram, então se ele fala, olha o PARATODOS que legal galera, as pessoas vão olhar para essa questão. Essa foi a experiência hoje e o debate foi muito interessante”, conta Marcelo.
A ideia do PARATODOS surgiu em 2012 quando Marcelo tirou uma semana para descansar. Ele ligou a televisão e, sem querer, começou a assistir as paralímpiadas e se surpreendeu com inúmeras questões, tamanha a sua desinformação: o estádio lotado, atletas paralímpicos que estavam a quase um segundo do recorde do Usain Bolt, um brasileiro que ele desconhecia vencendo a prova contra um paratleta considerado o melhor do mundo e como ele, fanático por esportes nunca tinha assistido à competição? Na época, a sede dos jogos de 2016 já era conhecida e a ideia transformou-se em realidade. “Não queríamos cair no clichê do coitadinho ou do super herói e sim mostrá-los treinando, no dia a dia, respondendo a vitória ou a derrota, sem fazer distinção entre o atleta e o atleta paralimpico”, esclarece Marcelo. A experiência transformadora, mudou, inclusive, a visão de toda a equipe do filme. “A gente vive em uma sociedade exclusiva, de pouca informação, de pouco debate, segregada. Talvez você até conheça a questão, obviamente, mas uma coisa é você estar dentro e outra é estar fora. A partir do momento que você convive, você coloca vários conceitos e valores a prova, dos menores aos maiores detalhes”. E foi exatamente isso que o Marcelo também quis debater com a exibição do filme no INJR. Jéssica Aparecida Gonçalves de Souza, de 15 anos, foi a primeira a levantar a mão depois da exibição do filme. Ela perguntou para o Marcelo o que despertou o interesse dele em fazer esse filme. “Me chamou bastante atenção também a ideia de sair do seu estado de comodismo e perceber as dificuldades e a rotina de um atleta que além de ser de auto rendimento tem talvez uma certa dificuldade, da superação diária. O preconceito, como foi debatido aqui hoje, é algo criado, não é algo que nasce conosco, isso desde de casa deve ser trabalhado e é algo que não deveria existir, mas infelizmente ainda existe, mas que ultimamente tem sido um tema que está sendo bem evidenciado e isso tem ajudado bastante a melhorar a sociedade”.
Igor Castanheira, de 31 anos, que trabalha na comunicação do PARATODOS e acompanhou a exibição do filme no INJR, fala que o esporte é um ponto de partida para uma melhoria na sociedade como um todo, e para um paratleta que está começando, ele pode ser também uma mudança de vida. Ele, que é um profissional que convive com as diferenças, acredita muito nesse âmbito do esporte, inclusão e realidade da pessoa com deficiência, mas é categórico ao dizer que nem todo mundo que tem uma deficiência tem que ser necessariamente um esportista. “Ele pode ser um jornalista, um dentista, um advogado, qualquer pessoa. A gente tem que aprender a respeitar e a admirar as diferenças de cada um, acho que o filme traz bem essa questão, as diferenças estão aí pra quem quiser ver”, conclui.